segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

FANZINES

Para fechar o ano aproveito o espaço do blog para divulgar dois zines editados pela Tchê Produções – minha produtora de fanzines – onde misturo a música com os quadrinhos: Blueseria 05 e Sonoridades Múltiplas 01. Os zines trazem artigos e comentários de shows escritos por Denilson Reis e ilustrados por uma série de consagrados desenhistas da cena independente do Quadrinho Nacional.

Blueseria 05 tem ilustrações de Alex Doeppre, Diego Müller, Juliano Machado, Laudo Ferreira Júnior e Marcel de Souza, este responsável pela capa da edição.

Sonoridades Múltiplas 01 tem ilustrações de Alex Doeppre, Anderson Ferreira, Beto Martins (capa), Daniel HDR, Diego Müller, Edgar Franco, Edgard Guimarães, Gazy Andraus, Henry Jaepelt, Jader Correa, Laerçon Santos, Luciano Irrthum, Marcelo Dollabela, Marcel de Souza e Marcelo Tomazi.

Blueseria 05 e Sonoridades Múltiplas 01
R$ 3,00 (cada), 20 páginas, A5, xérox
Pedidos para: tchedenilson@gmail.com

STEVE STRONGMAN E BIG GILSON

O canadense Steve Strongman começou sua carreira profissional muito cedo. Com 16 anos, Strongman já tocava em clubes de blues na cidade de Ontário, no Canadá. Logo estava dividindo o palco com uma série de conceituados músicos da área e do jazz como Kim Wilson, James Harmon, Roy Clark, Otis Clay, Watermelow Slim e tantos outros. Além disso, também fez parceria em letras de música com alguns destes artista. Steve é um guitarrista de mão cheia com vocais eu evocam as profundesas da alma do blues, e é considerado uma das revelações da nova geração de bluesman, conforme diz seu release.

O carioca Big Gilson tem uma carreira consolidada n área do blues, seja no Brasil ou no exterior, sendo o brasileiro que mais se apresenta no exterior. Gilson faz parte do cast da gravadora TopCat Records, sediada na cidade de Dallas, no Texas, Estados Unidos. Foi o fundador da lendária banda de blues carioca Big Allanbik, com muito sucesso no cenário blueseiro dos anos 1980. Atualmente Big Gilson tem um catálogo com treze discos lançados, sendo quatro deles no exterior (Estados Unidos e Europa).

Esta dupla de bluesman (na foto com este articulista) tocaram em Porto Alegre, no Átrio do Santander Cultural dia 17 de outubro. Dentro do projeto que leva ao palco apenas os guitarristas, sem banda, desta vez o público pode conferir um show mais arrojado, já eu tinha dois guitarristas no palco revezando-se tanto nos vocais como nos solos. Tocaram músicas próprias, tanto de um quanto do outro e pareciam bastante a vontade, até porque, este seria a última apresentação de Strongman nesta turnê pelo Brasil.

Claro que os músicos não deixaram de fora clássicos do blues compostos por John Lee Hooker por exemplo. Além disso, não poderia faltar o blues tocado por 10 entre 10 bluesman, “Baby Please Dont Go” do compositor Big Joe Williams. O final foi “quase” apoteótico, mesmo só os dois guitarristas no palco, eles desceram para tocar junto ao público que em estado de êxtase reverenciou o grande espetáculo.

Texto: Denilson Reis

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

LAZY LESTER


Laster & Denilson
Leslie Johnson nasceu em 1933, em Torras, Louisiana e tornou-se mundialmente conhecido como Lazy Lester (na foto com este articulista), um dos Mestres do Blues. E sua fama não é pouca. Considerado um dos grandes gaitistas (harmônica) do Blues de todos os tempos, Lazy teve músicas gravadas por astros do Blues e grupos de Rock como Slim Harpo, Lightnin’ Slim, Katie Webster, The Kinks, The Fabolous Thunderbirds e Dave Edmunds, entre outros.

Lester carrega hoje, aos seus 77 anos, praticamente sozinho a tradição do Blues por todo o mundo, com apresentações como a de Porto Alegre ocorrida no dia 29 de agosto no Átrio do Santander Cultural. Durante os anos 1950/60 gravou grandes êxitos pelo selo Escello Recors. Em 1957, Lester estreou como artista solo, permanecendo uma década como artista solo da gravadora. A consagração de Lazy Lester veio com o prêmio WC Handy Awards de melhor Álbum de Blues Contemporâneo com o disco “Lazy Lester Rides Again”.

Na apresentação de Lester o público pode travar contato com as raízes do Blues, pois o bluesman tem história e muitos anos de palco e composições. Embora Lazy tenha tocado muitas baladas Country, foi nos Blues que o público emocionou-se vendo aquele senhor de 77 anos tocando os riffs blueseiros cono um garoto. Tocou suas clássicas composições como “I’m Gonna Leave You Baby”, trovou com o público, brincou com a dificuldade de prender sua harmônica no suporte e no final recebeu o reconhecimento que um Mestre merece por parte dos fãs do Blues.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

ZZ TOP – Os Barbudos do Rock

Você poderá dizer que o ZZ Top tem mais fama pelo visual barbudo do guitarrista Billy Gibbons e do baixista Dusty Hill. Mas, roqueiro de verdade enxerga a alma musical inspirada no blues por de baixo dos barbões.

Com mais de 40 anos de carreira, o trio texano é completado pelo baterista Frank Beard. Juntos este tempo todo – nunca se aventuraram por carreiras solos – os coroas têm uma carreira consolidada no cenário musical. Misturando blues com folk e forjando um rock com muita guitarra distorcida, mas na medida certa, conquistaram uma legião de fãs, a maioria também chegando a casa dos “sessentões”.

O ZZ Top chegou pela primeira vez em Porto Alegre dia 23 de maio de 2010 com única apresentação no Pepsi On Stage para um bom público que destacava-se pelo visual roqueiro dos anos 1970. Até motoqueiros com seus “motões” estilo Harley Davidson marcaram presença em meio ao um público que variava dos 20 aos 60 anos de idade com, inclusive, alguns pais levando seus filhos para a confraternização roqueira.

O show começou pontualmente às 22h, mas foi interrompido logo na primeira música, por problemas técnicos. Logo, o ZZ Top engrenou seu rock’n’roll e só parou após 1h30min. Durante o show, a banda tocou muito blues, com destaque para a clássica “Rock Me Baby”, e seus hits anos 1980 como “Gimme All You Loving”, sem esquecer uma homenagem a Jimmy Hendrix com “Hey Joe”.

A banda tem uma performance correta, bem ensaiados até nos improvisos. São muito simpáticos e interagem com a galera o tempo todo. Ao longo do show, um telão mostra imagens mescladas com cenas de vídeo clips da banda. No final, o blues “Tush” consagrou a apresentação da banda em Porto Alegre.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Diego Müller (RS)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

BLUES: VIAGEM DA ALMA

Parte 1: Origens
O Blues tem sua origem entre os negros que foram trazidos da África para atuarem como mão-de-obra escrava nas lavouras de algodão do Sul dos Estados Unidos. Durante a labuta diária, assobiavam melodias simplificadas – apenas cinco notas, chamadas de escala pentatônica – para exprimir os sentimentos de suas almas: dor, lamentos, saudade... Nesta época, não usavam nenhum instrumento, pois eles eram, por parte dos brancos, associados à magia. Assim, a voz era o único instrumento. Com o fim da escravidão, mas não da segregação e da exclusão social, muitos negros passaram a viver do Blues, como músicos em pequenas casas noturnas, as jook joints, verdadeiros barracões de madeira, numa mistura de casa de show, bar e boate. Foi nesta época, início do século XX, que começaram as lendas de bluesmens – homens do blues – que vendiam sua alma ao demônio em troca de tocarem e comporem melhor seus Blues. Lendas e mitos a parte, o certo é que o Blues deu origem ao sofisticado Jazz e ao popular Rock’n’roll. Neste contexto, temos a primeira geração do Blues, ou Geração do Delta, em virtude do Blues ter nascido no Delta do rio Yazoo, um dos braços do famoso rio Mississippi. Alguns bluesmens que destacaram-se: Leadbelly, Blind Lemon Jefferson, Big Bill Broonzy, Robert Johnson – o homem da encruzilhada – e a Diva Bessie Smith.

Parte 2: Da Lama a Fama
Com o sucesso dos primeiros bluesmens, logo veio a fama, alcançada pela chamada segunda geração do Blues, ou Geração de Chicago. O Blues deixa de ser rural para se tornar urbano. Os instrumentos acústicos aos poucos começam a ser substituídos pelos elétricos. O violão vai dar lugar à guitarra e os palcos passam a ser mais sofisticados deixando as jook joints para a história. Destacam-se neste período: Howlin Wolf, Muddy Waters, Willie Dixon, John Lee Hooker, T. Bone Walker e BB King. Com a popularidade do Rock e o culto ao Jazz, o Blues entrou num período de obscurantismo.

Parte 3: Branco de alma negra
No final dos anos 60 e início dos 70, roqueiros, principalmente ingleses, passaram a tecer rasgados elogios a bluesmens, que tratavam como Mestres. Em entrevistas de bandas como Rolling Stones, os nomes de BB King, Muddy Waters e John Lee Hooker eram citações esperadas. Surge neste contexto, a terceira geração do Blues ou Geração do Pós-guerra, em que se destaca o nome de Buddy Guy. A partir daí, o mundo passou a descobrir o Blues. Nas décadas de 70 e 80, o mundo passou a reverenciar o Blues. Os velhos bluesmens, agora chamados de Mestres do Blues passaram a fazer shows constantes e gravar discos regularmente, ao mesmo tempo em que jovens músicos começaram a dedicar-se exclusivamente a tocar Blues, embora com uma “roupagem” e uma “pegada” mais contemporânea, mas não menos competente. Neste momento o Blues deixa de ser uma música exclusivamente feita por negros e passa a ser criada por músicos que tenham a alma negra do Blues. Como disse Jimi Hendrix: “todo mundo tem algum tipo de Blues para oferecer, seja você negro, branco ou roxo”.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Imagem: Alex Doeppre (Novo Hamburgo/RS)

LIL’ RAY NEAL

Denilson, Lil'Ray & Henrique
Raful Neal III, o guitarrista de Blues Lil’ Ray Neal (na foto com este articulista) foi o terceiro mais velho de dez filhos do Mestre do Blues Raful Neal, ou seja, o Blues é um código genético que carrega o bluesman Lil’ Ray Neal.

Lil’ Ray nasceu em 1960, em uma pequena aldeia rural nos arredores de Baton Rouge, Lousiana (Estados Unidos) e iniciou na música ainda criança ouvindo seu pai e os músicos de sua banda. Entre eles estava o hoje Mestre do Blues, Buddy Guy, que teve grande influência na formação do jovem guitarrista.

O avô de Lil’ Ray tinha uma casa de Blues e ali, aos 12 anos, o bluesman começou a tocar. Em 1975, formou uma banda com seus irmãos. Em 1980, migrou para o Canadá. Ao voltar para os EUA, tocou novamente com seu pai e ao lado de outros grandes nomes do Blues, como James Cotton, Lil Milton Campbell, Big Mamma Thornton e Bobby Rush.

Lil’ Ray Neal vem excursionando pelos EUA e Europa e chegou a Porto Alegre dia 18 de julho de 2010, com apresentação no Átrio do Santander Cultural. O projeto traz os músicos em apresentações individuais, mas num ambiente mais intimista. Durante pouco mais de uma hora, o bluesman norte-americano tocou clássicos do Blues, como “The Sky Is Crying” e “Blues It’s All Right”, intercalados com composições mais ‘swingadas’, onde Lil’ Ray mostrou ótima técnica em sua guitarra semi-acústica. Também tocou algumas baladas. O público aplaudiu em pé!

Texto: Denilson Rosa dos Reis

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Prezados Leitores:

Vocês que acompanham meu trabalho no universo das publicações independentes de quadrinhos sabem que tenho uma paixão pelo Blues, esta música nascida entre os escravos norte-americanos que cantavam suas lamentações. Cerca de 4 anos atrás criei um fanzine chamado Blueseria para falar de Blues, mas totalmente ilustrado por desenhistas de quadrinhos, inclusive com a publicação de histórias em quadrinhos com a temática do Blues.

No final dos anos 1980, quando comecei a fazer música com amigos, tocávamos o puro rock: Deep Purple, AC/CD, Black Sabbath, além do punk-rock que estava estourando aqui em Porto Alegre e Alvorada. Mas, os riffs de Blues eram constantes nos ensaios. Aos poucos fui pesquisando e tocando cada vez mais o Blues, além de freqüentar shows de mestres que por aqui aportavam.

Quando participei da banda Fluxo Urbano no início dos anos 2000, tive a oportunidade de gravar um CD Demo com três músicas. Embora a banda fizesse muito cover de pop-rock, o CD acabou virando um disco de Blues, já que fiquei encarregado de compor as harmonias e estrutura das músicas.

Hoje, quando sobra um tempinho me reúno com os amigos para tocar em nossa banda, Ferro Velho, que além dos clássicos do rock anos 1970, toca muito, mas muito Blues.

Neste blog você poderá acompanhar, mensalmente, minhas andanças pelos shows de Blues e artigos contando a História do Blues e de seus mestres.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: capa dos números 1 a 4 do fanzine Blueseria: (1) Henry Jaepelt, SC; (2) Alex Doeppre, RS; (3) Juliano Machado, RS; (4) Laudo ferreira Júnior, SP.

MICHAEL DOTSON

O bluesman de Chicago, Michael Dotson (na foto com este articulista) nasceu em 1957 e aos treze anos trocou o saxofone – instrumento com o qual aprendeu a tocar – pela guitarra, após ser influenciado por nomes consagrados do Blues, tais como Otis Rush, Junior Wells, Sunnyland Slim e Buddy Guy – este o grande mestre da guitarra.

A carreira de Michael começou a destacar-se quando o guitarrista entrou para a Teardrops, banda de apoio do bluesman Magic Slim, com quem tocou por seis anos, tempo suficiente para atuar ao lado de importantes nomes do Blues, como Billy Boy Arnold, Big Jack Johnson, Big Time Sarah e Jimmy Burns.

Dotson veio a Porto Alegre dia 13 de junho para apresentação no Santander Cultural. Já na primeira música, a clássica “Baby Please Dont Go”, Michael Dotson mostrou sua técnica. No palco, era só o bluesman e sua guitarra Fender Telecaster. Não havia banda, mas a técnica ao executar as músicas compensou a falta de outros músicos.

Ao longo de aproximadamente uma hora, o bluesman norte-americano tocou clássicos do Blues e apresentou as músicas do disco Lightnin In My Pocket, seu primeiro trabalho individual.

Texto: Denilson Rosa dos Reis