sexta-feira, 15 de outubro de 2010

BLUES: VIAGEM DA ALMA

Parte 1: Origens
O Blues tem sua origem entre os negros que foram trazidos da África para atuarem como mão-de-obra escrava nas lavouras de algodão do Sul dos Estados Unidos. Durante a labuta diária, assobiavam melodias simplificadas – apenas cinco notas, chamadas de escala pentatônica – para exprimir os sentimentos de suas almas: dor, lamentos, saudade... Nesta época, não usavam nenhum instrumento, pois eles eram, por parte dos brancos, associados à magia. Assim, a voz era o único instrumento. Com o fim da escravidão, mas não da segregação e da exclusão social, muitos negros passaram a viver do Blues, como músicos em pequenas casas noturnas, as jook joints, verdadeiros barracões de madeira, numa mistura de casa de show, bar e boate. Foi nesta época, início do século XX, que começaram as lendas de bluesmens – homens do blues – que vendiam sua alma ao demônio em troca de tocarem e comporem melhor seus Blues. Lendas e mitos a parte, o certo é que o Blues deu origem ao sofisticado Jazz e ao popular Rock’n’roll. Neste contexto, temos a primeira geração do Blues, ou Geração do Delta, em virtude do Blues ter nascido no Delta do rio Yazoo, um dos braços do famoso rio Mississippi. Alguns bluesmens que destacaram-se: Leadbelly, Blind Lemon Jefferson, Big Bill Broonzy, Robert Johnson – o homem da encruzilhada – e a Diva Bessie Smith.

Parte 2: Da Lama a Fama
Com o sucesso dos primeiros bluesmens, logo veio a fama, alcançada pela chamada segunda geração do Blues, ou Geração de Chicago. O Blues deixa de ser rural para se tornar urbano. Os instrumentos acústicos aos poucos começam a ser substituídos pelos elétricos. O violão vai dar lugar à guitarra e os palcos passam a ser mais sofisticados deixando as jook joints para a história. Destacam-se neste período: Howlin Wolf, Muddy Waters, Willie Dixon, John Lee Hooker, T. Bone Walker e BB King. Com a popularidade do Rock e o culto ao Jazz, o Blues entrou num período de obscurantismo.

Parte 3: Branco de alma negra
No final dos anos 60 e início dos 70, roqueiros, principalmente ingleses, passaram a tecer rasgados elogios a bluesmens, que tratavam como Mestres. Em entrevistas de bandas como Rolling Stones, os nomes de BB King, Muddy Waters e John Lee Hooker eram citações esperadas. Surge neste contexto, a terceira geração do Blues ou Geração do Pós-guerra, em que se destaca o nome de Buddy Guy. A partir daí, o mundo passou a descobrir o Blues. Nas décadas de 70 e 80, o mundo passou a reverenciar o Blues. Os velhos bluesmens, agora chamados de Mestres do Blues passaram a fazer shows constantes e gravar discos regularmente, ao mesmo tempo em que jovens músicos começaram a dedicar-se exclusivamente a tocar Blues, embora com uma “roupagem” e uma “pegada” mais contemporânea, mas não menos competente. Neste momento o Blues deixa de ser uma música exclusivamente feita por negros e passa a ser criada por músicos que tenham a alma negra do Blues. Como disse Jimi Hendrix: “todo mundo tem algum tipo de Blues para oferecer, seja você negro, branco ou roxo”.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Imagem: Alex Doeppre (Novo Hamburgo/RS)

LIL’ RAY NEAL

Denilson, Lil'Ray & Henrique
Raful Neal III, o guitarrista de Blues Lil’ Ray Neal (na foto com este articulista) foi o terceiro mais velho de dez filhos do Mestre do Blues Raful Neal, ou seja, o Blues é um código genético que carrega o bluesman Lil’ Ray Neal.

Lil’ Ray nasceu em 1960, em uma pequena aldeia rural nos arredores de Baton Rouge, Lousiana (Estados Unidos) e iniciou na música ainda criança ouvindo seu pai e os músicos de sua banda. Entre eles estava o hoje Mestre do Blues, Buddy Guy, que teve grande influência na formação do jovem guitarrista.

O avô de Lil’ Ray tinha uma casa de Blues e ali, aos 12 anos, o bluesman começou a tocar. Em 1975, formou uma banda com seus irmãos. Em 1980, migrou para o Canadá. Ao voltar para os EUA, tocou novamente com seu pai e ao lado de outros grandes nomes do Blues, como James Cotton, Lil Milton Campbell, Big Mamma Thornton e Bobby Rush.

Lil’ Ray Neal vem excursionando pelos EUA e Europa e chegou a Porto Alegre dia 18 de julho de 2010, com apresentação no Átrio do Santander Cultural. O projeto traz os músicos em apresentações individuais, mas num ambiente mais intimista. Durante pouco mais de uma hora, o bluesman norte-americano tocou clássicos do Blues, como “The Sky Is Crying” e “Blues It’s All Right”, intercalados com composições mais ‘swingadas’, onde Lil’ Ray mostrou ótima técnica em sua guitarra semi-acústica. Também tocou algumas baladas. O público aplaudiu em pé!

Texto: Denilson Rosa dos Reis