quarta-feira, 16 de março de 2011

LEADBELLY: BLUES NA ESTRADA


Ele foi uma espécie de François Villon do Blues. Como o poeta francês do século XV, Leadbelly foi acusado até de homicídio e passou algumas temporadas na prisão. Mas soube transcender a marginalidade graças à sua arte. Não foi apenas cantor e compositor de Blues. Também interpretava canções de igreja, temas infantis, work-songs, baladas folclóricas, cações de cowboy, cações populares e o que mais lhe surgisse pela frente. Tocava piano, acordeão, gaita-de-boca, bandolim e violão de seis cordas, mas seu instrumento principal era o violão de 12 cordas que descobriu no Texas e incorporou como acompanhamento vibrante – com seus acordes rítmicos e figuras de baixo – ao canto áspero intercalado de comentários falados.

Huddie Leadbetter, mais conhecido como Leadbelly (“barriga de chumbo”), nasceu em Mooringsport, Lousiana, em1889. Aos dez anos ganhou de um tio uma espécie de acordeão – um windjammer – e aos 13 anos já tocava nos bailes de Sábado. Aos 15 botou o pé na estrada e foi tentar a vida na cidade, especificamente Dallas.

Em 1917, foi condenado a 30 anos de prisão, mas ficou seis anos, sete meses e oito dias. Em 1930, Leadbelly voltou à prisão. Mas a sorte finalmente chegou. John e Alan Lomax, pai e filho, eram obcecados caçadores-de-sons. Encontraram Leadbelly na penitenciária de Angola. Um ano depois, ele deixava as grades e tornava-se motorista de John Lomax, além de ajudar os Lomax em sua pesquisa de campo.

A carreira do ex-marginal de repente entrou em alta. Em Nova Iorque, Leadbelly tocava para universitários e em clubes, fazia programas de rádio e engajava-se em causas políticas trabalhistas de esquerda. Agradava, apesar de não fazer concessões: “Nunca um branco foi capaz de fazer um Blues, porque não tem nada com que se preocupar, não tem problemas do tamanho dos nossos.” Uma coisa Leadbelly sempre admitiu: a influência de Blind Lemon Jefferson.

Em 6 de dezembro de 1949, Huddie Leadbetter morria no hospital de bellevue, em Nova Iorque devido a uma esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como a doença de Lou Gehrig. No início dos anos de 1960, ele foi revivido pelos jovens da canção folk. Em 1988, foi lançado um disco, A Vision Shared, espécie de tributo dos músicos jovens a Leadbelly. As gerações passam, mas a força da música de Huddie Leadbelly permanece, com a mesma vitalidade e urgência dos tempos heróicos do Blues na estrada.

Texto: Denilson Reis
Ilustração: Alex Doeppre (RS)
Fonte: Blues – da Lama a Fama (ed. 34)

DAVE RILEY & BOB CORRITORE


Dave Riley nasceu em Mississipi, mudando-se, ainda adolescente para Chicago. Vivendo próximo da lendária Maxwell Street acabou mergulhando no blues. Após voltar da Guerra do Vietnã, passou a se dedicar a sua carreira blueseira tocando ao lado de grandes nomes e conhecendo Bob Corritore, que cresceu em Chicago e aprendeu a tocar harmônica desde os treze anos de idade.

O encontro da dupla ocorreu em 2004, no King Biscuit Blues Festival, em Helena, Arkansas. A partir daí foi uma parceria que rendeu, até o momento, dois discos: Travelin’ The Road Dirt e Lucky To Be Living, consagrando-os como grandes nomes do blues.

Dave Riley (guitarra/voz) e Bob Corritore (harmônica) – na foto com este articulista – fizeram ótima apresentação em Porto Alegre, dia 21/11/10, no Átrio do Santander Cultural. Apresentaram músicas de seus dois discos e os tradicionais clássicos do gênero como “Sweet Home Chicago”, após brincar com um rapaz da platéia caracterizado como os personagens do filme “Os Irmãos Cara de Pau”, e “Blues It’s All Right” regendo a platéia no coro e nas palmas.

Dave foi muito carismático, conversando e contando “causos” de sua tragédia pelo blues, além de mostrar um “vozeirão” ao cantar. Bob deve ser reverenciado como um dos grandes gaitistas (harmônica) do blues atual.

Texto: Denilson Rosa dos Reis