domingo, 22 de abril de 2012

LEROY CARR – O BLUES TRÁGICO


Arte: Marcel de Souza

Muito antes de James Dean e Marilyn Monroe, a autodestruição já dava bom ‘marketing’. Vejam o que a imprensa especializada fez com um bluesman lendário:

“O que tornou Leroy Carr um dos melhores cantores de blues de todos os tempos também o matou. Dizem que para cantar o blues é preciso vivê-los. Leroy Carr fez as duas coisas. Morreu em 1935, pouco antes de completar 30 anos. O problema é que Leroy sofria o pior tipo de blues: bebeu até morrer.”

Leroy Carr nasceu em Nashville em 1905. Um dia, passou pela cidade um pianista chamado Ollie Akins. Leroy se entusiasmou com o que viu e começou a imitá-lo. Continuou aprendendo de outros pianistas que ouvia e de repente se viu ganhando a vida cantando e tocando em bares. Os amigos davam força para que ele fosse gravar em Chicago e o encontro com Scrapper Blackwell o decidiu a pegar um trem para o norte na primavera de 1928. Acertou de saída, com o seu primeiro disco, para a Vocalion, “How Long How Long Blues”. Em outubro de 1928 lançou seu disco seguinte, “Broken Spoke Blues. Leroy ficou com a Vocalion até dezembro de 1934, gravando 114 blues e seis diferentes versões de “How Long How Long Blues”.

O especialista Giles Oakley, em “The Devil’s Music: A History of the Blues, diz que Leroy e Blackwell “mostravam um ligação quase telepática em seus duetos.” Mas a autodestruição fazia parte do show e os dois competiam em proezas etílicas. Descontentes com a Vocalion, Carr e Blackwell foram levados a outra gravadora, a Bluebird, pelo bluesman Tampa Red. Na hora de assinar, Scrapper começou a reclamar que Leroy é que ficava com a fama e o dinheiro da dupla e nada sobrava para ele. Depois de gravarem umas duas canções, as hostilidades vieram à tona e Scrapper teve de ser retirado à força do estúdio. O que Leroy gravou sem ele foi de péssima qualidade. Depois das gravações houve uma festa no clube onde Tampa Red estava cantando, mas Leroy não compareceu. Mais tarde, souberam que ele estaria fazendo shows no Sul. E então veio a notícia de que havia morrido de tuberculose em Memphis.

Scrapper morreu com Leroy. Morreu para a música, mas sobreviveram até hoje no som arrastado e pungente de “How Long How Long Blues”.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Marcel de Souza (RS)
Fonte: Blues – Da Lama a Fama (Editora 34)

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