Arte: Marcel de Souza |
Muito
antes de James Dean e Marilyn Monroe, a autodestruição já dava bom ‘marketing’.
Vejam o que a imprensa especializada fez com um bluesman lendário:
“O
que tornou Leroy Carr um dos melhores cantores de blues de todos os tempos
também o matou. Dizem que para cantar o blues é preciso vivê-los. Leroy Carr
fez as duas coisas. Morreu em 1935, pouco antes de completar 30 anos. O
problema é que Leroy sofria o pior tipo de blues: bebeu até morrer.”
Leroy
Carr nasceu em Nashville em 1905. Um dia, passou pela cidade um pianista
chamado Ollie Akins. Leroy se entusiasmou com o que viu e começou a imitá-lo.
Continuou aprendendo de outros pianistas que ouvia e de repente se viu ganhando
a vida cantando e tocando em bares. Os amigos davam força para que ele fosse
gravar em Chicago e o encontro com Scrapper Blackwell o decidiu a pegar um trem
para o norte na primavera de 1928. Acertou de saída, com o seu primeiro disco,
para a Vocalion, “How Long How Long Blues”. Em outubro de 1928 lançou seu disco
seguinte, “Broken Spoke Blues. Leroy ficou com a Vocalion até dezembro de 1934,
gravando 114 blues e seis diferentes versões de “How Long How Long Blues”.
O
especialista Giles Oakley, em “The Devil’s Music: A History of the Blues, diz
que Leroy e Blackwell “mostravam um ligação quase telepática em seus duetos.”
Mas a autodestruição fazia parte do show e os dois competiam em proezas
etílicas. Descontentes com a Vocalion, Carr e Blackwell foram levados a outra
gravadora, a Bluebird, pelo bluesman Tampa Red. Na hora de assinar, Scrapper
começou a reclamar que Leroy é que ficava com a fama e o dinheiro da dupla e
nada sobrava para ele. Depois de gravarem umas duas canções, as hostilidades
vieram à tona e Scrapper teve de ser retirado à força do estúdio. O que Leroy
gravou sem ele foi de péssima qualidade. Depois das gravações houve uma festa
no clube onde Tampa Red estava cantando, mas Leroy não compareceu. Mais tarde,
souberam que ele estaria fazendo shows no Sul. E então veio a notícia de que
havia morrido de tuberculose em Memphis.
Scrapper
morreu com Leroy. Morreu para a música, mas sobreviveram até hoje no som
arrastado e pungente de “How Long How Long Blues”.
Texto: Denilson
Rosa dos Reis
Ilustração:
Marcel de Souza (RS)
Fonte: Blues –
Da Lama a Fama (Editora 34)
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