Serviço: 20 páginas, xerox, R$ 3,00
Pedidos: tchedenilson@gmail.com
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Denilson & Rip Lee |
Jimmy Burns & Denilson Reis |
Buddy Guy é considerado um discípulo de BB King, embora tenha onze anos menos. Mas também é inspirador de músicos como Eric Clapton – quem já não viu Clapton tocando Blues ao lado de Buddy? Guy começou a pegar em guitarra aos 12 anos. Em 1959 era guitarrista na banda de Muddy Waters. Em sua carreira solo fez trabalhos com o gaitista Júnior Wells e fusões com o jazzista Milles Davis. Pois esta fera do Blues esteve em Porto Alegre no dia 03 de dezembro de 1995, tocando no Salão de Atos da UFRGS.
O show estava previsto para as 21h, mas começou como sempre atrasando um pouquinho. No saguão do teatro encontrávamos grandes nomes do Blues gaúcho e da imprensa local, o que dava uma mostra do valor que Buddy Guy representa. Buddy Guy sobe ao palco acompanhado de três excelentes músicos e logo a galera entra em transe com os riffs blueseiros do mestre. Buddy é mais do que um bluesman, é um showman. Não para um minuto no palco, anda de um lado para o outro, agita o público com caras, bocas e gritos. Parece transar com sua guitarra, até fazê-la gemer. Mas ele não fica só no palco, vai até a platéia. Usa as unhas de uma moça como palheta, dá o microfone para a platéia cantar e fica andando pelos corredores do teatro. E o público delira ao tocar no mestre e em sua fender preta de bolinhas. Teve até quem beijasse os pés do mestre, como que o santificando.
Os músicos que tocaram com Guy eram realmente muito bons. O solo do baixista – infelizmente não consegui o nome dos músicos – foi arrasa quarteirão, o cara demoliu. O baterista no final de seu solo saiu correndo em direção a platéia como se estivesse comemorando um gol. Quanto ao guitarrista que acompanhou o mestre, mostrou alma, técnica, e uma excelente voz nas músicas em que cantou. Está pronto para uma carreira solo. Mais uma vez pudemos conferir outra lenda do Blues aqui em Porto Alegre. O show teve aproximadamente 1h e 30min e terminou com a clássica “Mustang Sally”.
Texto: Denilson Rosa dos Reis
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Denilson & Phil |
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Imagem: Alex Doeppre |
Porto Alegre ou, podemos dizer, o Rio Grande do Sul, também tem seus “gigantes do blues”. A música que nasceu nos campos de plantações de algodão no Mississipi, sul dos Estados Unidos também tem seus seguidores – sim, o blues é quase uma religião, por isso seus apreciadores são chamados de seguidores – no Rio Grande do Sul. Isto ficou mais uma vez comprovado na festa de 3 anos da Confraria do Blues, evento que leva ao palco do Believe Studio Pub, todas as sextas-feiras, nomes do blues local e até nacional.
Para comemorar estes 3 anos de confraria, a produção chamou ninguém menos do que o ícone do blues gaúcho, Solon Fishbone. O guitarrista foi o responsável por marcar o blues gaúcho no cenário nacional com gravações de discos de reconhecimento em todo o país e com participações nos principais eventos blueseiros do Brasil. Solon também inspirou toda uma nova geração de guitarristas a seguirem os caminhos da escala pentatônica e comporem blues do mais alto nível. O convidado, mais do que de honra, para este show foi Fernando Noronha. Aluno de Solon, Noronha tem conquistado uma carreira internacional, levando o blues gaúcho para os Estados Unidos e Europa, tocando ao lado de grandes nomes e mestres do blues mundial.
Além dos “gigantes” Solon & Noronha, a noite do blues começou com a banda da casa, a Confraria Blues Band, chamando uma série de convidados para dar uma “canja”, seja na guitarra com o Azambuja, no baixo com Luciano Albo, na harmônica com Andy Boy ou nos vocais com Alicia Azambuja. Na noite do dia 04 de dezembro de 2009, o público do Believe apreciou o que há de melhor do blues produzido
William Lee Conley Broonzy, mais conhecido como Big Bill Broonzy, fez a ponte entre o blues rural e o urbano, entre o Mississippi e Chicago. Nasceu em Scott, Mississippi, em 1893. Ainda garoto – no Arkansas, para onde a família se mudou – fez um violino de uma caixa de charuto e, com um amigo que brincava com uma guitarra de fabricação também doméstica, começou a tocar em festas e piqueniques. Em 1915, aos dezoito anos, Broonzy já estava casado e cuidava de sua própria fazenda. Decidira tornar-se pastor e renunciara ao violino. A seca de 1916 acabou com a colheita, seu gado e suas economias. Foi trabalhar nas minas de carvão até que Tio Sam o pegou em 1917. Passou dois anos no Exército. Em 1920 foi para Chicago. Dizia que não podia mudar a cor da sua cara, mas viera ao Norte para ter tudo o que o homem branco tinha: roupas elegantes, um carrão, uma mulher branca.
Big Bill começou a aprender violão com Papa Charlie Jackson. Suas primeiras tentativas de gravar foram frustradas. O primeiro disco saiu em 1927 – já com 34 anos de idade – e não foi um sucesso. Começou a tocar nos bares do South Side de Chicago. Em 1934, gravando para a Bluebird (uma subsidiária da RCA), tudo mudou: Big Bill começou finalmente a ter sucesso. Encontrando seu estilo fazia um blues ritmicamente esperto, sendo o precursor do rock’n’roll dos anos 1950. O blues de Big Bill, com um pé fincado na lama do Mississippi, apóia-se no rural para se projetar no urbano e no futuro. Já em fins dos anos 1930 ele adota a guitarra elétrica. Em 1937, gravava com bateria e depois, como o seu amigo Tampa Red, tornava-se um pioneiro da guitarra elétrica. Broonzy assinou mais de 300 blues, mas receber os direitos autorais destas canções era outra coisa.
Em 1939, participou do concerto Spirituals to Swing, no Carnegie Hall de Nova Iorque, promovido por John Hammond. Depois da Segunda Guerra, a sede do público branco jovem por heróis do mundo folk rural tirou Big Bill de um emprego de faxineiro no Colégio Estadual de Iowa e o recolocou no circuito dos shows e das gravações. Em 1952, foi convidado a dar concertos na França e iniciou a prática de fazer turnês européias quase todo ano. Foi em Londres que ele publicou, em 1955, sua autobiografia, Big Bill’s Blues: “Alguns negros me dizem que o velho estilo do blues está levando a nossa raça de volta para os tempos da carroça e do cabalo e da escravidão – e quem quer se lembrar da escravidão? Alguns dirão que a escravidão acabou e por que não tocamos outra coisa? Eu digo apenas que não sei tocar outra coisa...”.
Big Bill Broonzy estava no auge da forma – e da fama – quando a voz começou a ratear. Diagnóstico cruel: câncer na garganta. Morreu em agosto de 1958.
Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Juliano Machado (RS)
Fonte: Blues – da Lama a Fama (Editora 34)
Lemon, nome verdadeiro, porque nasceu gordinho como um limão, em 1897, na cidadezinha de Wortham, no Texas. Cego de nascença, Blind Lemon era muito esperto e, de certa forma, compensava a deficiência. Já aos 14 anos, era tão alto como os pais e começava a cantar e tocar violão. Em 1917, aos 20 anos, deu adeus a pai e mãe e pegou um trem para Dallas. O começo na grande cidade foi duro. Por dinheiro figurou em teatros que apresentavam luta livre, pois, como cego era tido com exótico. Foi fazendo contatos e acabou tocando na zona – no chamado red-light district. Lemon tinha integrado à sua música os sons mais primitivos do campo. Agora, ele absorvia a música da cidade.
Paul Oliver define o estilo de Blind Lemon Jefferson:
“Quando cantava, o fazia com um pathos profundo, o sentimento de um homem mergulhado para sempre na escuridão. Sua voz era aguda, seca e tinha uma força cortante que afastava toda hipocrisia e deixava a alma exposta. Com um domínio natural da nuance, ele usava uma quantidade de técnicas vocais, emitindo uma nota com uma precisão total, elevando-a deixando a voz subir e decrescer, entrando em cadência como o apito de um trem no meio da noite. Ao contrário dos bluesmen do Mississippi, o canto de Lemon, próximo do berro, não tinha uma batida insistente. Em vez disso, ele suspendia o ritmo e segurava uma nota para enfatizar uma palavra ou um verso. ‘Martelando’ as cordas, estrangulando-as e usando arpeggios rápidos, Lemon jogava com frases rápidas que estendiam sua linha vocal. Para ele, o violão era uma outra voz e ele freqüentemente usava frases imitativas, num estilo altamente inovador e pessoal.”
Uma brisa de prosperidade acabou soprando sobre Blind: ele agora se locomovia de automóvel, com chofer... é claro. Na metade dos anos 1920, Lemon viajava sem parar. Não demorou para que as gravadoras partissem no seu encalço. Suas primeiras gravações foram produzidas em Chicago, na primavera de 1925, mas o disco só foi lançado no verão de 1926. Em fevereiro de 1926, Lemon gravava pela segunda vez e em abril a Paramount anunciava seu primeiro disco. A paga era ínfima, os royalties eram escamoteados e Jefferson só ficou na Paramount porque Williams o comprava com mulheres e bebida. Com a saída de Mayo Williams, as relações entre Jefferson e a Paramount deterioraram.
Em fevereiro de 1930, o corpo de Blind Lemon Jefferson, 33 anos, foi encontrado congelado na rua, coberto pela neve de um dos piores invernos de Chicago. A inseparável guitarra foi encontrada ao lado do corpo. Morto, Blind Lemon virou herói instantâneo. Em cinco anos de Paramount, ele gravou 79 blues (além de dois gravados para Okeh). Como Mozart na música clássica, como Charlie Parker no jazz, Blind Lemon Jefferson só viveu trinta e poucos anos. Mas foi o suficiente para que o seu gênio proporcionasse muitas décadas de influência que marcaram – e mudaram – a trajetória e a linguagem do blues.
Texto: Denilson Rosa dos Reis
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Denilson & Andy |